Em um mundo onde prontuários cabem na palma da mão e diagnósticos circulam mais rápido que prescrição em plantão cheio, é impossível falar de medicina sem falar de tecnologia. Mas junto com a praticidade dos apps, da IA e dos registros digitais, vem também uma responsabilidade que não cabe só à TI: a segurança dos dados dos pacientes.
A preocupação com a privacidade chegou ao consultório. A pergunta “Doutor, meus dados estão seguros?” pode (e deve) estar nas entrelinhas do vínculo médico-paciente. Afinal, cada clique, acesso ou anotação envolve informações sensíveis: histórico de saúde, diagnósticos, tratamentos, exames e, às vezes, até aspectos da vida pessoal. Isso tudo vale ouro no mercado ilegal de dados!
O que a lei diz: dados de saúde são protegidos por regras
No Brasil, a privacidade dos dados dos pacientes é uma exigência legal prevista pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD – Lei nº 13.709/2018). A LGPD classifica informações relacionadas à saúde como dados sensíveis, ou seja, que merecem atenção redobrada em relação à coleta, ao armazenamento, ao uso e ao compartilhamento.
Essa proteção especial existe porque qualquer vazamento, uso indevido ou exposição desses dados pode gerar consequências graves tanto para o paciente quanto para o profissional ou instituição de saúde.
Importante: Não basta dizer que os dados são necessários para o cuidado com a saúde. A lei exige justificativa formal, documentada e transparente para cada etapa do uso dos dados.
Essa legislação trouxe um novo patamar de responsabilidade para profissionais da saúde, que agora precisam aliar excelência clínica a boas práticas digitais e jurídicas. Estar em conformidade com a LGPD não é apenas evitar multas ou processos, é fortalecer a confiança e o respeito à privacidade do paciente.
Avanço tecnológico sem segurança é retrocesso
É ótimo ter acesso à IA diagnóstica, interoperabilidade de sistemas e prontuários integrados. Mas o médico estratégico, que pensa no futuro da medicina e na experiência do paciente, precisa ir além: é necessário usar a tecnologia com responsabilidade.
Adotar inovações não significa confiar cegamente em qualquer sistema que promete agilidade. Segurança exige conhecer as ferramentas, saber onde os dados vão parar, quais são os protocolos de segurança e quem tem acesso às informações.
Usar sistemas sem criptografia, com senhas fracas ou compartilhadas, ou que armazenam dados em servidores não regulamentados, pode colocar o profissional em risco, inclusive jurídico e ético. E pior: pode abalar a confiança do paciente.
Já revisou a segurança dos seus sistemas de saúde este ano?
Riscos reais: o que médicos precisam evitar
Sabe aquele print do prontuário que vai pro grupo do plantão? Ou o caso clínico compartilhado por e-mail sem anonimização? Ou o acesso ao prontuário de um paciente que você não está atendendo? Atitudes que parecem inocentes podem configurar violação de sigilo profissional e desrespeito à LGPD.
Vazamentos de dados de saúde não são raros no Brasil. Um estudo da PSafe feito em 2021 revelou que mais de 223 milhões de dados sensíveis de brasileiros já haviam sido expostos, incluindo registros médicos. E não pense que só grandes instituições são alvos: consultórios e clínicas também estão na mira dos ciberataques, muitas vezes por usarem softwares desatualizados.
Como garantir a proteção dos dados dos pacientes: checklist prático
Checklist de segurança para médicos:
- Utilize sistemas homologados e seguros: evite softwares gratuitos ou sem registro na ANVISA e garanta que os dados fiquem em servidores compatíveis com a LGPD.
- Habilite autenticação em dois fatores: camada extra de proteção essencial contra acessos não autorizados.
- Não armazene dados médicos em nuvens pessoais: Google Drive e Dropbox, sem contrato de proteção de dados, não oferecem a segurança exigida.
- Esclareça o paciente: registre quando, como e para quê os dados foram coletados e permita que ele possa revogar o consentimento.
- Monitore quem acessa os dados: escolha sistemas com logs de acesso para rastrear visualizações e alterações.
- Revise contratos com fornecedores digitais: garanta que todos os parceiros estejam adequados à LGPD.
Se alguma dessas práticas ainda não faz parte da sua rotina, este é o momento de agir! Use plataformas que atendam às exigências da LGPD — como a Voa! — e reduza seus riscos.
Ética digital e credibilidade médica
A credibilidade médica não se constrói apenas com domínio técnico e conhecimento clínico, mas também com responsabilidade digital. No mundo da saúde digital, ser ético é ser criterioso com os dados. Um médico que conhece seus direitos, os direitos do paciente e os limites da tecnologia está à frente, não só como profissional, mas como referência de cuidado confiável.
Em um cenário cada vez mais digital, proteger dados é proteger pessoas. A confiança do paciente começa também pelo zelo à sua privacidade. Usar bem a tecnologia é uma forma de cuidar.
Fontes:
Brasil. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Brasília: Presidência da República; 2018. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm
Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM nº 2.314/2022 – Dispõe sobre a normatização do uso do Prontuário Eletrônico e da digitalização de documentos em saúde. Brasília: CFM; 2022. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2022/2314
Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS). Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde – PEP-CFM/SBIS. SBIS; 2024. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://www.sbis.org.br/certificacao/
Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Guias Orientativos e Boas Práticas sobre LGPD em Saúde. Brasília: Governo Federal; 2023. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://www.gov.br/anpd/pt-br
CNN Brasil. Dados de 223 milhões de brasileiros foram vazados, incluindo falecidos, diz empresa. CNN Brasil; 2021 jan 28. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/dados-de-223-milhoes-de-brasileiros-foram-vazados-incluindo-falecidos-diz-empresa/
U.S. Department of Health and Human Services. Privacy, Security, and HIPAA. HealthIT.gov; 2022. [Acesso em 2025 jul 31]. Disponível em: https://www.healthit.gov/topic/privacy-security-and-hipaa
Privacidade e segurança de dados na saúde digital: guia essencial para médicos